Quando vovó falava que já tinha sofrido muito não era que eu duvidasse pois sofri junto com ela as mortes precoces do meu tio e do meu avô além das circunstâncias e ela só queria que eu e suas duas filhas ficássemos bem porém dava um jeito dela mudar de assunto porque se ela morresse naquele momento não sabia o que seria de mim acho que é assim uma das visões daqueles momentos de tensões quando o álcool ou qualquer outro infortúnio entravam naquela casa se não fosse por ela eu diria que cresci faltando tudo escondido com as minhas brincadeiras e com as minhas leituras fugindo das coisas sérias dos adultos apático amarelo cheio de vermes com os dentes podres furúnculos por todo o corpo tosse comprida catapora sarampo amigdalite amigo dos médicos desde a primeira infância anêmico duvidavam que escapasse parece que ouvi várias vezes dizerem pelos cantos coitado este foi o meu luxo porque muitos disseram que eu era luxento considero hoje dizer que não sofri tanto quando sofria quando vovó dizia do seu sofrimento talvez por ter acrescentado o prazer em qualquer outro momento que não aquele daquelas palavras ir embora fazer uma cruz na parede jurar vocês vão ver não eu não queria ver não queria ouvir eu fugia mesmo sabendo que quando voltasse apanharia apanhei mas desfrutei enquanto perdido na beira do rio nas lagoas campos e valetas daquele São Miguel Paulista com os olhos bem abertos tendo cuidado com onde pisar sem escapar de um prego ou outro enferrujado urina e fumo vamos pra cama catar cabelo branco e ouvir histórias antes da televisão chegar lá em casa!
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