segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Tá procurando o quê?

Com a maior das elegâncias ele não disse eu nem deu detalhes conhecidos aos seus leitores se quer pois algo muito sutil para revelar um paradeiro pela primeira vez sabia o quê fazer com a navalha & a noite escorreu na cidade escurecida por todos os cantos até chegar no cabaré vestia uma calça branca de tergal que deixava a marca da cueca camisa volta ao mundo preta e o but de couro alemão marrom mostrando a bica por vir isto era o que dava pra ver além daquele cabelo mostrando vários rumos pediu wodka com limão e gelo a música era Notícias Populares girou para beber e ver o resto do quadro estrias nos colos dos vaselinas pouco espaço entre o balcão e a parede da frente a coisa acontecia mesmo era nos fundos pegou o corredor lateral filme noir toda a locação voltou matou a dose e saiu em busca da rodoviária mais uma vez onde precisava comprar passagem para a sua madrinha vagou bebendo aqui e ali foi para o ponto final passou direto de um extremo ao outro ida e volta depois de errar mais uma parada desceu de dia de ressaca e sem passagem: bronca!     

domingo, 30 de dezembro de 2012

Meu cão só anda nu

Quando sai! Nu! A primeira vez, na rua!
Velocidades de mais olhos e mais pernas ficaram de plantão!
O nu quando nos invade deixa o portão aberto!
De nu ou pelado é ato de honestidade!
Gostou do que viu?
No mais, são recursos para retirarem o tecido!
Um texto sem nada é muito melhor de ver!
Ninguém quer ler as falas de não vou dar!
Ou, estragou!
Não deveria existir rótulos para nus.
E, ponto.
Os naturistas querem estragar o nu, quando tentam naturalidade.
David olha por cima.
Quem vai esculpir o nu do século?
Embora eu não esteja vestindo nada neste momento meu texto ainda está envolto em farrapos.
Não vem com roupas sem corpos!
A folha lá branca fina lisa do tamanho ideal convidando com um leve levantar pelo bom vento pede um tecido sem margens quer ser toda treliçada de intenções. 


  

sábado, 29 de dezembro de 2012

Aqueles que estão de fora da moldura, querem entrar

Sinusite pra fechar o ano me obriga o quieto se eu colocar agora toda a minha concentração neste texto é capaz dele mudar e não entortar mais não o quê vocês querem com isto parem de me ler e assumam suas funções no face livro para todos com direito a ilustração & referências escrevam suas incertezas o frágil do dia à dia postem suas figurinhas sem discurso suas ferramentas de deixar bonitinho vistam-se de Madre Teresa De Calcutá digam como é bom não ser o número 1 e dão conselhos aos navegantes remem os baldes d`água construam relógios com menos números dias menores poderão dar mais tempo de vida o tempo tem imposto meu texto ele só não quer ser um mero devaneio pois devaneios nunca foram escritos e se caso for será obra de arte dirão o cara era bom de devaneios por falar nisto quem ganhará o Nobel do devaneio em 2013 quem colocará mais um Jabuti para nadar?
Um amigo meu me disse que é o sonho de consumo dele!
Engraçado pessoas que se julgam das artes falarem em sonho de consumo qual será o meu?
Este personagem entrão!
Então deixo para o último dia, o dia da minha Diva.   

No museu de ciencias naturais me apaixonei pelo Belo Horizonte do Rosa.

Lembra do lugar comum tudo isto para nada? É a vida.
Quando o desconhecido está na sua frente sem ser aberto, você não quis colocar as mãos...
Quantos tons de cinzas na profundidade do seu campo com contraste intimista para a miséria quer mais volume?
Estou batendo bafo com os lugares comuns.
É apoteótico este início, em fim!
Reconheço que de vez em quando parece outra coisa, mas, será que realmente, não é outra coisa, ou apenas enrolei vocês enquanto a ordem do discurso fodia?
Vossos livros sérios me viram nú.
Fui de me despir pra livros!
Alheio ao aqui agora.
Conheço bem de brinquedos, jogo fora.
Sou de jogar fora para os outros quase pegarem.
Qual a cor para o meu gozo?
Já fui apaixonado por barbante cordão cortante descarregar por cima entrar por baixo mandar e aparar trazendo na mão sem os moleques pegarem fechando a tarde no pódium. Mas, quando a noite vem, me leva para cama, para ver imagens de esconder o vazio. 
Aquilo que chamam de indivíduo, é apenas um saco cheio de imagens, organizado de acordo com a conveniência.
Você quer caçar com o escritor sabe qual arma ele pode levar viu como ele faz o seu cerco dizem que quando ele está no mato sem cachorro só olha pro chão?
Se eu joga-se os seis números da virada só construiria um cubo da altura permitida onde todos pudessem ficar nus sem receio algum do meu clic!
O velho desejo de agradar tudo.
Contra a velha sentença do mando.
Trepam muito bem.     

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Todos querem escrever

É a chuva que estou escrevendo em rufadas de ventos meus pingos magnetizados meus acentos trovões relâmpagos que o raio vai cair em outro lugar estou escrevendo no lugar do pedal pois chove ainda lá fora rugidos dos céus pio de pardal mesmo assim este pardal pia repete chora reclama avisa chama anuncia ou outras atribuições aos sons emitidos por outras espécies tomei banho antes ainda estou com a cabeça molhada espirrei e dentro daquilo esperado de um texto de chuva trocado por uma pedalada ainda fica o óleo da corrente que só vou poder abolir daqui no máximo duas semanas disse meu fornecedor especializado da chegada do meu rolo raro de 8 aí sim vou poder filmar do suporte frontal com espelho pra dobrar colocando água em toda a cidade mas já sabia sim do studium antes de qualquer fala sei que pegam barato por pouco tempo pois tem de mais e assim podem mudar sem onerar muito o mercado é o inferno & seus diabos cobram caro a entrada quando deixam sair tive tudo para fazer parte do comércio com 14 anos de idade tive um bar com freguesia onde pude ver como tudo funciona foi quando aprendi abrir e fechar freguês que gostava de pinga gelada tinha seu tatu no refrigerador aquele do rabo-de-galo eu enfeitava da cerveja véu-de-noiva sem concorrentes os do bife à palito me amavam diziam nunca terem comido coisa tão boa meu bar era ponto de encontro dos madeireiros dos funcionários públicos dos fazendeiros dos caixeiros viajantes da colônia federal um bar pode pedir que trago quer o quê?      

O brinquedo dos cães caiu em baixo da máquina de lavar

O parafuso do pato já foi ao teatro.
Nestas bandas já toquei!
É bem simplório uma informação, toque aqui!
Quase que escrevi resta alguma coisa mas achei meio bolinho.
Meus amigos fazem outras coisas.
Não me encaminhe por aqui!
As visitas dos ciclistas foram tranqüilas.
Sempre seremos os mesmos.
Um vazio no estômago quer encher esta frase!
Fale agora de amor do clichê importado das nossas primitivas máquinas dos inúmeros pormenores da fala do língua.
Esta carne é masculina.
Um chefe de estado de ânimo.
Se eu já não estiver lambendo sabão não posso falar com.
Deve ser por isto que um dente de cima nos fundos vem afiando com mordidas na própria língua que o denominou.
Aqueles que um dia disserem para si que gostam de mim eu não preciso saber estes serão meus amigos do mesmo jeito sem nenhum tipo de medo.
Nem mesmo isto posso impor pois descubro que se disserem serem todos acreditarão mas aí não estarei mais aqui.
Multi Ação!
O melhor do ir é descobrir o quê tem lá.
Já que aqui ninguém sabe.
Uma coceira boa nos glúteos não interrompeu.
Giro a lata tiro a tampa separo as partes e estou pronto para tirar os dedos daqui e enfia-los dentro inçando mais uma narigada.        

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Um livro que Bisgodofu me deu para ler e fazer o quê quisesse, publico aqui então, comentem!




                                    









KUZLLAH



















ALAIN BISGODOFU















nomenunca




















FICHA CATALOGRÁFICA

Catalogação na fonte


-Bisgodofu, Alain -1978
KUZLLAH


Índice para catálago sitemático:
Poesia – Literatura Brasileira




nomenunca@yahoo.com.br











.  


                                                       
                                                  1



de vez em quando ultrapassa na monotonia deste discurso aquilo que quero

                                          GRITAR
                                                      
entre os enlouquecidos sapos do inconsciente prostituindo esta rotina
eis o comercial a nuvem e a beleza
então caio de minha torre com os pés firmes no subsolo
ainda pouco tinha um mostruário de sangue todo infinito pra te oferecer
entre outras coisas o corte a pausa fundamental para o corpo
despedaçando esta verdade que ficou pra trás/
no oriente dos relógios profanos/ com permissão de ser Deus
minha alma se entrega de bandeja/ pela eletricidade caótica do maravilhoso
quem agora diz ficou fantástico

COMO ORAÇÃO A FAVOR DO ABSURDO
                  MÁGICA RARA
             BOTÂNICA DO ALÉM

as madressilvas não correspondem
o caminho indica uma nova ignorância
no meio de ciprestes devo fugir das intenções do vento
fragmentar anti-romântico minha pressa
por que sou transformista sem revelar o nome
a identidade imperfeita é quase um gemido na frente do espelho
balbuciando o de sempre
nos corredores intrínsecos

CONTAMINO

e vou me destrinchando no meio do sonho
                                                                no meio da terra
                                                                                       no meio da chuva
estes olhos se multiplicam no infinito gozo dos lábios

depurando em oitenta páginas de palhaçada minha dor
para que os homens possam encontrar repouso
nos calcanhares da gula estou me revelando:

IDIOTA IDIOMA dentro
sigo entre automóveis e bestas



                                                 
                                             
                                                   2

KUZLLAH: meu eclesiastes
                        minha alegria embolorada
                                                          meu tesão
                                                                   meu tédio reclamando do mundo
                 entre falos inacabados
                nos sacrilégios do porvir
CHEGA TEMPESTADE DIVAGANDO PELAS ESQUINAS DO PLANETA
agindo como um anjo que quebrou suas asas e ficou atrás do poste  
pago com a boca esta maldição/ tratando o negócio no labirinto artificial/
te prometo um paraíso onde não há planos
vou sujar com púrpura aquela hora/ deixar seu cadáver como manda o princípio/
depois posso sair correndo/ fingir o Satanás do papai/ esperando o futuro na liquidação/ ou no leite de nossos filhos/ quase nunca heróis de si
DE NOVO KUZLLAH FAZ MANDINGA DOA SEU AMOR
enquanto sigo na boemia o furacão   (:)

era sexta não me lembro/ o quarto estava vazio (sem cartões postais para o vício do leitor) KUZLLAH QUEBROU O ESPELHO fiquei ouvindo o estrondo/ depois o choro
naquele instante palavras dentro de mim se derretiam
a mesma vontade de gritar foi sufocada pelo silêncio
assim instalou-se mais uma vez em nossa casa o tédio

na manhã do dia seguinte foi colorindo nossos olhos
uma espécie de violência camuflada tomou conta

KUZLLAH & TEMPESTADE FORAM PRA RUA

fiquei sozinho/  
o indefinível atravessou meu crânio/ fez uma bagunça ensandecida na memória
e profanou os lençóis gastos de masturbação ...................................................................
...........................................................................................................................
     
parto toda noite simulando excelência/ pernas de ninfeta/ a xoxota custa 16 mil/ e tudo em mim é glorioso/ derramo poções mágicas em seu leito/ e te dou a fantasia da longa vida comestível
depois você assina o cheque/ guarda meu telefone/ esperando dioniso minha volta

shiva são meus olhos/ pedacinhos do intelecto das tarântulas
existir tem muita pressa
guardo na fome meu entusiasmo o sabor agre deste gozo
rejeitando os que só pensam em fórmula  
FALOU KUZLLAH SEM PRECISAR DE VOZ

isso é segredo nos dividendos do sono
TEMPESTADE COLECIONA RUGAS INVISÍVEIS
já não posso anestesiar os distúrbios

GANHO A VIDA E ELA ME ENGANA

      

                                                3


         modificando o vício

EU CAFETÃO DE PUTA POBRE

reclamo na alma da palavra com os personagens lambuzados


                                 O GOZO

                   primitivo por uma tarde absoluta
                             poeta em desespero
meus pés continuam doentes arraigados na orquestra
esperando um turbilhão pouco de mim se descobria
                            por debaixo das telhas
                           num terreno descampado
                        no maremoto do sangue
                                   era lá refúgio

SUA FALTA KUZLLAH AMANDO O TRIVIAL
                      COM SABEDORIA
                VAI FICAR EM SEGREDO


sem consistência todo dia é noite em meu abismo

assim retorna o sacrifício    (:)

oito bocas magistradas em orgia fazem malabarismos alegóricos

  ENGANANDO TEMPESTADE
no asfalto por prazer vocação e sexo
transformarei este bordel numa igreja
serei pastor de um passado tenebroso
fundador de uma confraria  

19 horas de suicídio coletivo
troca-troca de casais travestis da ilusão


MINHA FOME TEM UM ÊXTASE DESBOCADO






                      
                                                    4


... e se assanha quando faço da solidão um reino
deturpando a realidade
devo ficar inacabado pronto pra mais uma aventura

          que não me venha ditar o esquema

vou passear minhas mãos pelas cabeleiras do esquecimento
quebrando os copos
reclamando força
minhas pernas estão cansadas
meus olhos se perdem

são pernilongos do invisível que me trazem história
a novela surreal de toda existência 
que a seu modo se dilata por resguardar os promíscuos  

NA METRÓPOLE DE PARALÍTICOS RONCOS

cuspo entre os compradores da quotidiana pobreza

                          espero o sorteio

             o rastro leviano da transeunte terra    


predestinado a crias
há unicórnios miseráveis que descascam minha pele
aguardando o sepultamento macabro da razão
para que descubram meu tesouro
é preciso carregar as pedras do abandono
uma cordilheira de desalentos infinitos


nada é tão palhaço que nem o rosto   













                                                   
                                                5



fabrica saudade
borras de sangue no bambu
parangolés no peito do equilibrista
deram-lhe confiança
a chaga da disciplina imperfeita vem brincar com a palavra
repousando no cansaço já escrito
talvez engula o almoço
eu que vi a noite escorrer pelo ralo
entre os olhos nômades do anunciado
KUZLLAH SE ENTREGAVA
sua voz me exigia trabalho
fiquei em silêncio
nos portais da percepção
minhas vértebras
mágico por qualquer aurora
também ganhava as ruas

se iludindo com a cerveja e conversações longínquas

                     padeço angústia

repetindo a malandragem  
um batalhão de mendigos barrigudos procuram meu colo

                    NADA DISSO

os desgraçados sabem que sou momentâneo

na santidade das gírias imaginei a noite
mãos de caricatura atentando a boneca
minha vergonha digeriu toda antropofagia

então foge pela vida corpo adolescente
troca os pés pela alma reza no esôfago

        ninguém mais te segura

       faz macumba cata-vento

       nas fotografias do sonho
  fico do tamanho de uma formiga





                                                    6



goela baixo: maracutaia de todas as ninfas que na multidão reaparecem querendo chicotear minha carne
aqui estou pronto experimentando tudo
a ilusão maldita dos cães com enjôo
movimentam a promessa o interesse dos bambas
com olhos estancados no porvir anuncio a profecia
na lascívia do monstro que enobreceu a fumaça genital das inspirações lunares
desconstruindo o tempo   
monto a cavalo no suor do sol o esperma não me sustentava
era o que escondia meu rosto afetuosamente encarnado na matéria
peregrina pelo mundo os lambaris da dor
se tivesse força maltrataria o espírito  
pois o barulho é Vênus

    KUZLLAH NO TRÂNSITO
   NESTE MAR DE AREIA CHORA

enxergando o êxtase nas searas da rotina
se apóia em mim o murmúrio das rabecas
súditos de uma prosa irracional
penso nos ventríloquos do mangue   

   A CRISE SOBREVEIO PELO REALEJO DA ALMA
FIQUEI COMO UM SAPO HIPNOTIZADO & FAMINTO

                trago aos bufões a masmorra

TEmPEsTADe QuE dO JaPÃO MAnDA CARtA:

                        não tem mais jeito   

TYZÃ O ESCONDERIJO

                             TYZÃ O ENIGMA

TYZÃ A ÚLTIMA PALAVRA ESPERANDO DE

                                                             KUZLLAH NENHUM PONTO DE VISTA






    
                                               7

desespero ecumênico profanando a liturgia
ordinários esqueletos delimitam o espaço

sei que a cabeça não flutua para além das caixas e do campo
ataco a rua subalterna da inspiração 

que o poeta continue cego e não tenha glória
existindo pelos vácuos moribundos da vida
vou descansar meus pés
na espiral da covardia        

           UBUNAFÚ

         tiroteio mágico  


TEMPESTADE TENTANDO PULAR O MURO

KUZLLAH E SUAS PÉROLAS DO ISOLAMENTO


meu peito continua apertado se contorcendo no marrom da porta
todo dia é a mesma coisa
uma sensação inútil me invade
toma conta atormenta
comovido prefiro o silêncio no lugar do grito
a angústia camuflada a qualquer hora se inflama

O QUE ESCREVO NÃO TEM PLANO

      ALI NO SOLUÇAR DA FOME

acumulo em meus olhos toda existência que enxaguo
retalhando o prazer nos jardins do sono

escrevo híbrido

entre erros e arquétipos

inventava outra história (:)

não sou um pianista preso por pregos de cetim
tampouco bebo o bálsamo das beatas

no propósito de degustar a morte me devoro           (:



                                                8


são de paisagens distantes que me lembro
relógios de ossos
iguanas que dormem ao sol
arremedos de alma
alvenaria sagrada arquitetando o tempo
visto de outro modo morrerei com sede
meus pensamentos se entorpeceram
fiquei confuso nas janelas do encanto
meus heróis são plumas lentidão de sonhos e lesmas
nesta clandestinidade digo que somos uma casta no véu do esgoto
talvez seja repentino a mesmice do devaneio

leve como a canção que canto meu olhar inventou a luz


ESCURECE O CÉU
                               O SANGUE
                                                 A ESPUMA


penso invisível entre flores murchas o castigo

anestésicos da palavra
                                   traço o silêncio       

MUNDO NADA MÁGICO SEU AR ME DEIXA AFOITO

na linguagem que não se aproxima
na angústia do orgulho

preciso desaprender que existo/ que sou caverna

NINGUÉM OUVIU MINHA PRECE

         NO PESO DO SIGNO  

choro um mar de espelho
uma quantidade de infinito no vagabundo trânsito

não posso sair da casca
    em ti encarno

   ACHEI QUE PODERIA SENTIR NOJO
NA TENTATIVA DE RESGATAR O VERBO



                                                     9

KUZLLAH FAZ DE MIM UM BOVARY
néctar de uma realidade caótica muito além do corpo
eu que não ando frígido/ de pau duro pelo centro
vou diminuindo o passo

cumprimento árabe no bazar da índia
o espírito ficou sem rédeas gastando os olhos no turbante
tenho elétrons em meu tormento - a sepultura do cosmo triturado

vem bendizer o sacerdócio destruir florestas
   revelando o martírio do microfilme
        no busto da loira sal de cona


EU E MINHA FÁBULA DESFILANDO PELA CIDADE UBUNAFÚ


deixo o ancestral de lado
meus pés enxergam vilarejos no vão deste batuque
posso até suprimir os cactos
melancolia iluminada
consertei o mais novo labirinto de brinquedos para o futuro
saibam que a poesia surtou na primavera
que hospitalizaram meus sapatos de metafísica

nada acho daquele palhaço bêbado de rua
feito um bandoleiro de esmeraldas
vou aspergir minha cruz

inventei a história das árvores que se comunicavam pelos sumos
                            ontem vi parecia vulva

                            JÁ MEU COLO
NO CANCRO DAS VEZES UMA CICATRIZ ESCAVA


a maior virtude não é o medo
tampouco a coragem

a maior virtude (é)

ENTRETANTO VOU GRITAR EM MENOS        :

babilônia da cabeça nos desertos do Saara  




                                               10


o que sai de dentro chega a complementar este suplício
pedras na doença instantânea
só depois da chuva um arco-íris me açoita
meus olhos se petrificam
onde estou pássaro perseguindo pára-raios de uma cidade sem cor
arquivo todo passado em minha têmpora
pois vigilância se transformou em martírio
o que fazer com esta angústia
se perder em que sítio  
o melhor do EU está no poço
no atalho de uma estrada obscura
este corpo se lembra dos compradores impetuosos
feito um fariseu na forca um vaga-lume se concluiu em nuvens
repartindo pesadelos que me sonham
fui anunciado pelo anjo das sete trombetas de prata

morrerei como flor e o espírito de antigas jabuticabeiras me socorrerá

        REZA A LENDA:

inventário de voz   
algo composto nas beiradas do brejo branco
apoiado por rãs intuitivas
houve gestos e sons nas partituras de minhas lágrimas
enquanto os espantalhos do cosmo muravam o mundo

reconheço o sujeito/ a sujeira na limpeza

                   NADA DE DELÍRIO

fabricarei instrumentos para uma outra língua
nunca mais estarei só nesta anatomia

enganei minha sede
vomitei o presépio de minha fome
e nem me dava ao trabalho de sair do túmulo
 
atualmente estou me distraindo 










                                                 11


na rua maravilhosa da alma cheia de becos
entorpecido com os alquimistas milenares caminho

EU KUZLLAH NADA SEI DOS COMPUTADORES PROFANOS

anuncio presságios na primavera
no espírito senegalês de uma formiga
com gula nos olhos e subúrbios na garganta
paralítico estou aos pés do eremita

MEU CORAÇÃO PEDE MAIS SONHO E FABRICA DOR NO SAL DA TERRA:

depois deste cumprimento chulo minhas mãos se confundem
abençoado por outros ventos
nossa senhora do soluço nesta prece sorri
lembro dos lençóis manchados pela pornografia      
e completo agora alguns quilômetros retentores do ócio

apenas mais um século para morrer cantando
transformar em praga a retidão do que é rústico

assim descrevi neste surto meu sopro
a profundidade inútil da vida
me quer além dos alicerces

       DES
             MO
                 RO
                     NAN
                             DO

APLUMO URROS EM MINHA PROA













                                               12


coube a mim proclamar este grito
tal como um cavalo que na madrugada passeia
pela alameda do céu de nuvens foscas
preciso derrubar este muro
no silêncio desta procissão escrever minha história
atuando em trevas
tem gosto de língua a maravilha
caos na primogenitura do assombro

firmo meus pés incandescentes na poeira das horas
esperando estagnado entre os protozoários da propaganda a real tristeza
no sonho invadia a casa
dentro do carro só uma cidade invisível
  
bêbado de poeta e sufocado de rua
perfurava a utopia
no oriente das promissórias de luz
a eternidade ficou oca
cheia de gemidos

OXALÁ REMELA DA ESSÊNCIA

ouço assovios longínquos
olhos dilatados de prata

nazareno trago pérolas e aproximações desumanas
de repente saliva minha voz

PROFETA GRAAL DO PÂNTANO

tinha rapsódias na loucura
a sabedoria sedentária nas palavras do vate
vem libar o veneno que escorre do sono

corretor do tédio te compro em partículas todo espaço

artificial do mesmo chão
seqüela no espelho minha boca  

          LIBIDINÁUSEA

misturando na matemática de meu nome o último verso 
o lixo do túmulo era vermelho

fala com farrapos de fúria o que te trouxe imaculado de exílio pra esta choupana


                                                   13


sobra de sombra na pia
o esqueleto do barranco multiplicou o êxtase
com palavrões ensurdecedores encontrei o reino
maldita chegada
corri feito um cachorro
minha cabeça ficou em chamas
os espinhos de meu sexo se desabrocharam

personagens de uma perturbação prolífica

A IMAGINAÇÃO É A VOZ DO SONHO

na intensidade de outros signos
caracol enfeitiçado
é o que busco no temporal das asas

          KUZLLAH

deixa de lado o movimento

nesta casa morou um homem que amava seus órgãos

o melhor é não ser solícito

abro a porta
estou me inventando

        mistério

NEM EU MESMO SOU:

a raiva da ruiva de branco

a lágrima como desculpa

o esconderijo grande

cola sua mão em meus dedos
                                              
                                           e manca logo  

  

    



                                                 14


todas as vias da vida transbordaram
sem nenhuma necessidade me avaliava o vento
há corações acelerados aludindo ostras da morte
me formei naquele crime

O QUE SERIA DE MIM SEM OS BUFÕES DA TERNURA

abóboras e caranguejos delinqüentes

vou reviver aquela fome e convidar as incertezas
duvidei de demônios no samba
fiz deste verbo uma vasta imensidão

alicates me castigam

agora estou inerte

O PRISIONEIRO DO SOL RASUROU MINHA TÚNICA

no lodo universal de toda anarquia

não quero que haja esperança

escrúpulos de ampulheta

pessoa que ri aborrecendo meu aborto

faltam tijolos em meu desespero

miro a ponta de meu nariz com os olhos
o desconhecido me faz ouvinte
  
 nas bordas daquele lago apazigüei as pulgas

vasto vendaval entorpecido nos estrumes da cegueira

PRÉDICAS PARA O XADREZ DE PASSISTAS VERMELHOS





                                             



                                           15

não acredito nos espinhos planetários da escritura
tampouco abomina o fôlego de meus versos o percevejo
vejo sombra
ontem era um deus o acaso superficial dos homens
garatuja neste solilóquio
pela liturgia posso suspender o coma

                     MENTIRA

as vestes ficaram borradas no apocalipse do verbo

ruminado seja o amargo da vida
a palavra derretendo este néctar

      no monumento dos olhos

no subúrbio da noite me vê aos trapos

PÁGINAS AROMÁTICAS DO ENCANTAMENTO MARAVILHOSO

corre minimalista do dedo
                                na verve do vento
                                                       na veia do vômito
                        
                              ESTRAÇALHO CORES NO ESQUIFE DA BOCA

de repente meu caminhar ficou mecânico
feito fábula na fundição mágica  
reproduzo estandartes na rotina
tudo aqui é permitido
a tristeza egípcia do cavalo
talvez seja herói o horóscopo na gentileza das pernas

farei aliança com o tempo
gírias de saturno

a ti pertence a desgraça instrumental daquela música
novenas monstruosas/ pergaminhos nas dunas da garganta

poesia é noite/ cambalhota em cima do muro/ chocolate derretido no bolso
assombração de confetes inevitáveis e ninfas nos degraus do rosto

aventurando a ser o mesmo escrevo aberrações na terra

obcecado pela vaidade da espuma     




                                                   16


pula o olho com dor
na solidão rarefeita dos mesmos tigres envenenados 
e deuses lascivos urinando atrás dos postes da memória

URUCUM NA TESTA

SORTILÉGIOS

LÁPIDE ESQUARTEJADA

orgulho perigoso desde o início

castigo é sanhaço lá fora  
eletrificado em meu rim
dialetos duendes de uma nova língua

na desordem do lixo apanhei papiros mentirosos

TEMPESTADE TEM GONORRÉIA DE MÚMIA

EM UBUNAFÚ PERNILONGOS DORMEM

ESTIVADORES DE POEIRAS CÓSMICAS MISTURAM TUDO

pentateuco/ balde d’água/ machuca a pele da criança
uma lagartixa foi esmagada na parede

KUZLLAH PROMETIA MORTE
destino na fadiga dos órgãos
cantam os sonhos escarlates do brâmane
constipados demônios da infância tocam o tambor na infelicidade do frio

como se não bastasse a visão me possuía
estendendo suas asas e voando na direção de minhas misérias

PROTESTO

por que posso repartir o coração  
trabalhava sonâmbulo meu imaginário
de qualquer modo sustentei o ar do assassino
não reconhecia distância

VOLTO ESCRAVO INDIGENTE NESTA VIGÍLIA

     


                                                17


POESIA É A GUERRA DA LÓGICA IMPREVISÍVEL

                     PIXANGRE-OGUM-ERÊ

esmiuçando a tragédia nas arraias de KUZLLAH
engole o poema de olhos mestiços

camelôs de macunaíma se assanham

enquanto choro a solidão dos analfabetos
multiplicando o gozo para que nasça o êxtase

eu e minha vagabunda sombra
encarnado na tarde como no sonho
machuco a vida
pois ainda estou lutando

só o trânsito enfartando minha fala   
na velocidade lúbrica da libélula

xamã dos quatro ventos

volúpia com cabeça de cavalo

ontem o sol da influência
mapeou retinas pluviais

por que odeio luz que não se irradia
ressuscitado de suruba na palavra cortante do poeta bóio

incendiando com pulmões de fogo o terreiro  
equilíbrio cães de poeira
aconchego de antenas vermífugas

alucinação enrugada nos escombros da loucura

tambor batuca grito (:)

É O CAVALO QUE LOA
         CAVAODALA
                   (!)

sei dos que falarão pelos poros
dos atrevidos escorpiões do esgoto   


                                                   
                                                   18


com algumas mágoas despedaçadas
outras reaparecem no medo

uma coleção de livros e palavreados

               corpos suntuosos
             africanos murmúrios

sigo com todo meu cansaço desagradando

gostaria que nestas horas de preguiça estes versos não me abandonassem 

      CONSÓRCIO DE MIM MESMO

        atravesso jardins invisíveis
          anjos adorando o terreiro

talvez o tarô esteja enganado
ou então aquele índio morra de estranhamento

aguardo improvisos de um arco-íris na ponte
espectros cochichando em ouvidos mouros

          nas escadarias me desarticulo

         esqueço de acomodar o tempo

acabrunhado com tanta modernidade
acaricio quimeras do geógrafo-gafanhoto

          pelos limites que me castram

estúpido é o sentimento ditatorial de uma formiga

muito além da liberdade das flores
existem dentaduras de plástico para os marroquinos da música

               por que não me pergunto como

deixo de lado mais um filho na atemporalidade do gesto


                                                                                                              (::



                                                19

menstruando cicatriza minha alma
na eternidade da lágrima
sobe nos degraus do passado o martírio
presente profetiza pela obra abraçando o vazio

A RAPSÓDIA DO INVISÍVEL

estupra a história 
corrimão do céu em pânico
cacos de mim se espalham pela superfície rudimentar da existência
folhas reclamam fogo

KUZLLAH E SEUS AMORES NUNCA FOGEM DA MEMÓRIA

pesadelos se deslocam
vem chegando alianças
hosana neste colorido imundo
vou ficar ridículo vestido de preto
menosprezando os abades
eu que sou a inércia do rosto/ pedregulho no espaço
algo modificava tudo
minha imaginação transborda
no doce concreto da garganta
possuía traumas aquele desespero
seqüela das borboletas de lama
vomitarei rimas embriagadas de sons
o ritual sendo avacalhado
é tão raro a sutileza do capim que com pernas de pau vou longe
cuspindo nas manhãs de barbitúrico
nem quero significar nada
sonho com molas e mulas/ bougainvilles na penumbra 
nunca as mesmas deidades da palavra 
totem ouça meu suplício (:) aventura dos relicários/ sabedoria do oriente  
posso abraçar as favelas da fala no quilombo de toda heresia
brinca com os dedos em minha boca
no solstício deste instante
nos arranha-céus da vida
o caos aproxima o devaneio/ nas toalhas de terra a última ordem

UBUNAFÚ ENTRE OS TOUROS DA LUA

é o velório sem tempo
menino-mata-cobra-com-dois-dentes
turistas vão cair
minha quarta sorte é um feto que cafunga nonada
eu que desabrigo cores na penúria incandescente dos olhos
penso de improviso/ lembra     
           
                                               20

sinto ódio de planta ao percorrer este precioso vazio
meus pés reagem de forma antagônica

TENHO QUE CONFIDENCIAR O RESTO

um poema sendo balbuciado no sono

disparates incolores na rua escura

chego perto mas volto
oprimido por realejos eletrônicos

O PERSONAGEM NO FUTURO DANÇA

MINHA SOLIDÃO JAMAIS CONCEDE AUTÓGRAFOS

o que escrevo vai sendo esculpido
pela cumplicidade parcial do sonho

estou desenhando o que não vejo  (:)
um sabiá em dias de chuva   
no boulevard sem amor

desobediente de minhas entranhas posso atear fogo
na metamorfose da carne
abraço crianças de lata e engulo amêndoas

sou toda a individualidade desta escritura
larry de lembranças babilônicas
a masturbação desmascarada no banheiro

EM KUZLLAH HÁ CLAVES DE RUNA

cegamente o que procuro me aprimora

darei mais volume a este silêncio
triturando palavras em meu ócio
o fantasma famigerado me quer tenso
com tesão pelos tresloucados de bronze
autos de pintura se perpetuam

tenho me desencarnado através de utensílios milenares
ontem foi a vez do banco do candelabro e da bandeja
hoje os atravessadores brincam

espreitando a esperança do abajour de castas
esfacelado por sussurros blasfêmicos de penitentes virtuosos me sujo      


                                                  21


pássaro-trovão no clã do sapo debaixo da tenda se entorpecia
dedo no fogo acendendo o incenso da alma

colorido sísmico (:) tenho fome
depois inquieto fornicava o vento
excluindo o que vejo
  
ILUMINAÇÕES DE PEDRA

vou ficando imune como os desabrigados

      TYZÃ ESCOLHE O MARAVILHOSO

FAZ DA FATALIDADE UM REINO KUZLLAH

    TAMBOR DO CORAÇÃO VIRULENTO

PROGREDIA A FUMAÇA DE MEUS VERSOS

entre os maracás me embriago
na explosão do êxtase
no som encantado de minha voz
procura sua dor
pois o impossível se estabeleceu como prova
meio aos árabes monumentos da presunção
inútil ser entrega
pensamento estagnado como as águas do poço

    de manhãs violetas reclamam

na história das asas esta luz não tem balança
era defeito que sentia
houve ruídos gigantescos
substituindo o sono e outras carícias

o meu canto na expansão da volúpia
onde os xamãs se banham
reconstruiu o entusiasmo primitivo da língua
e auroras num só rosto

mergulhando nos declives da palavra
                                                   o pajé
no calor do sol no carvão da telha
de grito se inflama  


                                              
                                               22


         com pés palestinos

ZÂMBI É O SONÍFERO DA VIDA

poderia transtornar a flauta
costurar a boca palpitante do demônio

CERTOS ESPÍRITOS SÃO VISIONÁRIOS

entretanto a revelação interveio fragmentando o passe

tive força alegria nas pálpebras da promessa

meu rigor se tornou aleatório

chegaremos lá quando for noite

           DUVIDOSO CÉU

é sobre reflexos que me pergunto

ó transparências de um ritmo esguio

    espanto de pequenas coisas

          inventor alucinado

         borboletas de zênite

não posso deter o relâmpago  
é bem mais difícil do que se imagina

SÓ ABISMO PROSTITUI MINHA LÓGICA

recortando o ego do gesto
renego o que se tem como princípio

passado que vingou da cabeça

há muralhas e pirâmides que me sufocam

subterfúgios de uma existência vermelha    




                                               23


eis o dilúvio do sonho
                         corpo flutuante

                                    na verve da vertiginosa larva:

a lesma em distância se arrasta no lodo  

então caminho na tragédia da imagem :


SEI CANTAROLAR HOSANAS NO AZUL DO SILÊNCIO


PLANTAR ARBUSTOS ARBITRÁRIOS NO CANSAÇO


depois desisto e ascendo

no desespero da lua que não soube ouvir

irei desaguar no sul superficial de meu âmago

no quintal onde dançam inútil

                    A RUA
                        RUGE


aperfeiçoando minha seiva

na terra do pensamento empírico

cabeça degolada senti medo
    
artesãos repartem a música


NUM SOPRO SOA FLUXO


    O HERÓI SEM ROSTO


entretanto me afago como coisa longe de qualquer palavra     



                                               24

              manequins deformados

                   num quarto escuro

o homem suspirando pela eternidade não se alcança

são potros que me afugentam


KUZLLAH


eu que não ponho rédeas em minha boca
fui cingido de verso

é fogo é volúpia
a fome da brisa circulando em minha têmpora

de braços abertos para o sol
sigo revoltado pelo repouso

encarnando nuvens na visão

sou o verdadeiro sonho nos líbanos da vigília
música árabe para ouvidos de pedra

onde o cristal atraiu a dor afugentei os deuses   
e resguardo a infância maravilhosa no peito

esmiuçando entre os móbiles da palavra

                                                                o estrondo

vou subtraindo
                        IDILONTRA
                                               por um qualquer coice esta vida onírica


sibila nas arquibancadas de chuva
corações atordoados no banho

revolta eu mesmo faço

na profecia de ventríloquos imundos  



          
                                                     25



este reconhecimento vem bendizer o pranto

             colorindo o incompreensível

AMEI O PERFUME DAS ROSAS E ODIEI O GOSTO

         melhor desenhar o que não quero

por que só escrevo o movimento desordenado deste impulso

PERMITO ME PERDER NO SONHO

     forte sussurrava em plumas

mas o remédio não aplaca a esperança


       já diz o que há de arder

      aprenda que jasmins jazem


ATRATIVOS PARA OUTRA LÍNGUA

MÉTRICA VICIOSA DE HÚMUS NO MANGUE
    

meus derramamentos são ilegíveis
   
     míope tateava vestígios

túmulo da metamorfose constante

verso que de mim transcende
uma obstrução que oscila no ócio  


toda existência só me trouxe isso (:)

despretensiosa magia ampara o olho  



       
    

                                                  26


urra peregrino da sombra
por onde anda seu ego cheio de farpas
seu artesanato de luminosidades

nesta hora brinco com as nódoas do espaço
aspergindo sangue neste suplício

sei que estou podre
revirando sonhos ao avesso
posso tocar seus órgãos
possuir sua pele carcomida de revolta

pois tudo em ti é obra

cuspe mágico do taraumara

ó profeta da crueldade
forasteiro do espírito
inaugura em mim o disfarce
a liturgia dos parasitas cômicos

            EU
    o primitivo sol
  o oráculo de toda desventura

anuncio fantasmagórico
na virtuosidade do surto aquela voz

trago a lama da alma
no realejo penitente da vida o instinto
aprendeu sentir fome

ódio torrencial
teatralizo o tédio
esquizofrênico na trapaça
meu fôlego foi se perdendo no meio do joio
e agora desejo a fumaça dos dialetos
o perfume monstruoso do infinito
       
KUZLLAH

minha ignorância é personagem neste palco
por que posso acabar como outro
bêbado de horizonte
na explosão suicida de um novo começo   ***


                                                27

bangalô que construo em seus olhos
queimando no sol por dinheiro
cara de cartografia acidente no trânsito
goza o ditado  (:)

risada de jacu nas montanhas sem rumo
vou ruminando a vida flutuante do fôlego
fechamento de todas as portas
sei da juventude das flores
luminosa orgia
meus pés ficaram gastos nas grades do tempo
titubeando na terra entre paredes de espuma
meu desprezo não tem freio
amo delinqüência e sou como todas as forcas

mandala do capeta
híbrido candelabro
cabaça do deus cicuta
algemas espalhadas pelo corpo

preciso deixar com que os olhos gritem
queimar os porquês da alma

nada inflamou-me oco
como as víboras do porvir
hoje sou tão hóspede
nas correntezas do real delírio
eros sem músculo atrás da moita
faxineiro da solidão sem barriga
reclama de mim os pederastas

que eu possa me alimentar de fome
na fadiga imaculada do cérebro
visto a liberdade virgem do cavalo
risco de silêncio o inexprimível

arcanjo caveira
no buraco do sapo             )))
quentes pregos do sono
realidade outra               (((
há um vendaval de vozes sufocadas em meu peito
lava bunda n’água fria
bate no cachorro
enquanto escrevo chorando
espasmo andrógino do corvo
portal dos ossos
convidando as tulipas do destino        
  
                                               28

contém porra mediterrânea este pensamento barrigudos da high (:)
jejum de jagunço na jangada
jaguatirica com cachimbo no ânus

letárgico liquidificador da memória
outrora subjetivo estou cheirando a vida

mon ange
prova em sua boca meu gosto
pois estou deitado esperando a guerra
o construtor depois o tédio

há ferragens nos subúrbios da inspiração maldita
o mistério se alongando em minha testa
orquestrado na anatomia do sexo
bandido-criança com braços de céu ridículo

 no paraíso das visões
    SOU KUZLLAH
 o esotérico cupim de rabo
  fantasma ti-tiu da prosa

 nunca vou pegar peso
cairão sobre mim as vigas
juro que vi deus copulando no sonho
agüento qualquer terremoto
sem reservas me embriago
na fatalidade das sombras imortais
vesti poderosos espelhos
pela castidade das prostitutas
piorou a palavra
e o leão segue me devorando ciumento

argila nas nuvens da alma
posso sentir o escuro percorrendo o cascalho de minha garganta
lobotomia de solo lânguido
não me peça que responda
estátua capiau combina
eletrochoque em meus beijos
monopólio do mesmo barro

completei minhas alucinações na favela mais cosmopolita do universo
ESTRELA D’ALVA
margaridas do ópio paralisante
sei da imperfeição do agora
inconsciência sagrada apagando do cérebro
escocesas divindades no redemoinho dos dedos     

                                            29

casa ao acaso este testemunho
produzindo sonhos no desassossego

bizarra contemplação

eis o falso falo fadado ao fracasso
prédicas e outras mazelas
o poema procurando palavras perecíveis

esquio produto daquele ócio
mandingas e sinagogas
foi-se o sono do vento
no suicídio das quimeras reconheço a chaga

repolho abóbora e cancela

o calor que vem da rua (:)

cigarro acesso  
feriado cômico   

inútil andar em círculo
vivo em estado de transe

eletrônica fadiga
assim é meu tédio na carroça do imaginário ombro
pés que traduzem esta amargura
briga de cachorro mama de leite e galo

saio da cor do sol
moribundo no desenho
disfarçando minha pressa

CUSPO NAS MÃOS ATÉ FICAR TONTO

heliogábalo imperador da anarquia
baco das vísceras
brinca com meu sexo estuprando paranóico a vertigem

tenho assumido a gula no lugar da lembrança

quem robou meu sereno
desperdiçou meu sangue

eternamente grato
prisioneiro do vazio



                                               30


nem vou perder poesia

por que posso num só braço sustentar o mundo

planto com os olhos
regado pela imaginação do devaneio

deveria mas não sei suportar o coice
a dor primordial de todo desequilíbrio

na pernoite do pão
pareço máquina
solidão exu do espírito

pois vontade não é desejo

sacrilégio do gozo ínfimo
culpa meus erros até a morte

faraônicos templos in verso construo
neste acabamento não há portas

foge o céu me olhando
a poeira apagando a matéria

minha risada não tem conserto
espadachim da carne que ficou trêmula  

entrei no labirinto mágico  
embasbacado de sombra


CHEGA

         TEMPESTADE TENTAÇÃO TÃO TOSCA

IMPROVÁVEL NA ESPERA

                                             TUDO

                        ANTES DO PISO ERA CHÃO






                                                      31


a morte de olhos negros carregando tijolos na chuva trouxe o desespero irreal das coisas

nem sequer tive força

o que vem de delfos golpeava minha loucura

com o rosto cansado era só refugo

a madeira daquele peito derramou concreto em meu sono

lá fiquei triste

porém sigo aos trancos

me desentendendo com andróginos de areia

DEVO GUARDAR COMO SE FOSSE PEDRA MEU SOFRIMENTO

o tambor que definha os grãos da história
reconduz solitário a garganta de ouro

trampolim de voz vazando
hidráulica fúria
suicídio no penhasco
ódio do nojo que reclama

abatido pela vida
tudo aqui vive morto

pescador que chora
canto a solidão virulenta do espaço

estas veias romãs da queda

quanto a mim vou esquecer o caminho
imprevisível serei só ausência
arcanjo de chapéu preto
moloch nas cloacas da manhã

É KUZLLAH O ATALHO MAIS VAGABUNDO
      A ILUMINAÇÃO DECORATIVA

difícil ser poeta no esgoto da lógica que nunca se vê volúpia
dinastia ultrapassada
por que esparramo safiras   

                                                 32


CATACLISMA AO RELENTO


ABANDONO TERRA NA VALA


  POSSO OUVIR HISTÓRIA


ESCULPIR COM A PLACENTA DA PÁ OUTRA IMAGEM

       IMITANDO OS MURMÚRIOS DO SOL

           DESCOBRI A DOR DO METEORO


FOI VIVÊNCIA QUE AGITOU MINHA VOZ


DE REPENTE SOU TÃO ABSURDO


VOU SURRUPIAR OS ESTÁGIOS DA ALMA


COMO INDIGENTE NÃO DOU CERTO


NA RAPSÓDIA DO TAMBOR
IMPREGNAVA O BARULHO


                 DENTRO DO CÉU
O DEVANEIO PERFUMOU MEUS SONHOS


ÓDIO BRAÇAL POR TODAS AS COISAS
              EGO CU DE FRANGO


JÁ O PEDREIRO DA FLORESTA FOGE

           ENCENANDO TREJEITOS

MEU INFORTÚNIO PRECISA DE MAIS FOME



                                              33



por um promíscuo instante posso inventariar outros lagares

        SEM SABER ENGOLI TODO UNIVERSO

e agora arroto este ódio tão surdo dos que atrapalham meu devaneio

              eis que ascende em mim o corpo

               para que nunca entenda a vida

                      vejo unicórnios na lua

                             língua de fogo

                            siameses no gelo



            pena não ser templo

calafrio entre os trombones da vertiginosa visão

ademais piso em andaimes misteriosos

desejando confuso toda beleza

meu estandarte é como a cerimônia dos esquilos longínquos

a paixão pajé do muro
peregrina decodificando as escadarias do infinito

NESTA PROCISSÃO SOU QUASE UMA LENDA

almoxarifado onde guardo os tesouros incompreensíveis


encarnado em nódoas
neste apocalipse repreendo a raça

no jornal moribundo de minha imaginação
reina o agora

em sombra de jurubeba/ canto os dialetos da esbórnia    
  


                                                      34


pela escritura quis ouvir a música e transmutar os berros

                  vício que estrago

quer na impossibilidade encontrar terreno

na masmorra do vazio/ andarilho sou

              mendigo de palavra
  
                  prece do rosto

                   deus de arame


é o que se tem dentro


desventura com cara de profecia

       véu do vento fálico
  
           ríspido rosário


         curandeiro da luz

                              zumbi é meu repouso
  
                                                  minha garatuja só vertigem


o poema batizou o abandono
nos aquedutos do sonho se perdeu


ao mesmo tempo sinto


     filódios de néon
disparate em praça pública


      ATÉ PREFIRO                                                 (((


                                                 35


paranóia do palhaço
aguardente pelos olhos

chicoteando o princípio
robôs desfilam nas quimeras do clã

quase não tenho sangue

em minhas veias corre um mar de vento

nos abismos alucinados do coração este orgasmo

mãos de aracnídeo sua boca é como um salmo
magia no disfarce do demônio

           satirizei a terra

sem o amor das bicicletas de fogo
apodreço

enquanto nasce a lua obliterava os sentidos

impossível não abraçar meus pés
vida no lirismo de sodoma

sigo sonhando com as imperfeições do verbo

batalhão de nuvens
valentia por toda obra

que se arrebentem de cansaço


PODE A PEDRA SER MAIS VIL QUE O METEORO


em meus ombros carrego noite

colorindo os favos da fala

esqueci nos tronos de açúcar

o ritmo visceral das trevas
       
        



                                                         36



pé de fogo minha ninfa
 no balé da cabeça
                               vejo    (::

portão aberto/ assombração na rua/ antiquário da idade de deus
impulsos caóticos na terraplanagem da revolta
quis inventar panfletos/ ilusão turbulenta
rouxinol do corpo
paisagem que se aflora/ no palanque do riso absoluto
cresci libertando libélulas
rabiscando o fracasso de pintores imperfeitos

seja eu o ditirambo desta vergonha

carroça-carniça/ atleta-macumba
    
um paraíso de fúrias escorregou no sonho




            nas galerias do crânio
                                              muito além ...


          


  
























                                                         37


cansei de poeta subversivo só na palavra
lampejo afrodisíaco de centauros afeminados
que aracnídeos arranhem meu casco
rompendo o hímen do sonho
nódoas na infecção dos parangolés
                                                        desejo  (::
prejuízo na lápide do silêncio/
luz pelo ódio espantalho/
pirotecnia das lesmas/ osso de gim/
lágrimas de lã/
imobilizando a rotina
abençoai minha fuga vertiginosa fome
fôlego na orquestra do exílio
preciso explorar o vento leproso da memória
o desmiolado entulho da loucura
que a palavra se prostitua em êxtase
no equador das linhas com tigelas de mirra
colorindo o espaço andrógino da seiva
fiz sacrilégio pela existência etílica





























                                                     38




entranhas sujas de terra/ apologia do palhaço anarquista
eu inválido desperto o sentimento mórbido da rua
enquanto brota uma estrela no olho do rinoceronte
deixo meu estábulo como formiga/ feito rascunho amarrotado
espalho quilos de confusão no corpo
estilhaços na alquimia das leguminosas barrocas
adorando o escuro/ nos alfarrábios de mim
martirizei o sol
nos pergaminhos da pele
cicatriz tatuada na pança   







  






















                                                 39


vim de calamidades e falcões impregnados no peito
bêbado nas tavernas frias da aurora
volto repetitivo queimando o rosto no gozo do jaguar que se esconde
destrinchando pesadelos nas alamedas daqui/ eu
plágio/ palavra desigual
anseio empanturrar de fome a lua
lapidando a vergonha de nossa reza
resisto no exílio feito criança
que seja este verso fuga
vazio que fala alto/ nas apunhaladas do ócio
voz de parkinson/ devaneio deturpando a lógica
léxica do ventila-dor de espuma
no lugar de pratos e talheres de feno
aciono potências fantasmagóricas do êxtase
um turbilhão de metáforas virulentas na violência me encharca
saio grilo/ gafanhoto/ cavaleiro no silêncio das açucenas
outrora outra resistência mais concreta afligiu a garganta
nos trapézios orgia/ o mesmo porco/ no coração olhos de abutre
duvidai ó vento
defumando minha prece/ deturpando minha fome
com garras de meteoro na língua
afogo minhas asas no sangue
sal de fruta eu sei
detestando o trono/ tropeço na vastidão do vate que farreia
cães no vilarejo da boca
trago deus em meu ânus/ utopia ultrapassando o túmulo
sou templo de imagens mambembes/ poluição ridícula
peixe esperando no aquário a esmola de seus lábios
desarrumo e sujo estas salamandras
versejando vertigens verborrágicas do pensamento maravilhoso
cuspo meu sexo no arpoador
e nas dunas demoníacas deito
dioniso me acorda/ me afugenta/ me ama
mantendo no apartheid do musgo
esta mandinga/ esta mixórdia ancestral que pulsa

no cachimbo da tosca pajelança
vou degustar o seio/ saravá dos pântanos oníricos          
                                                                                   ***

                                                                               KUZLLAH